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O domingo dos ramos e da agonia


Frei Gustavo Medella

Um domingo verde e vermelho, que transita entre a euforia dos aplausos e a crueldade da cruz. Domingo da contradição, dos extremos, dos ramos e da Paixão. Celebração que mostra a natureza pendular dos humores humanos, que revela as maravilhas e as misérias que podem nascer no coração da pessoa a partir das escolhas que realiza.

Neste Domingo, a seiva verde que confere vida e cor aos ramos balançados em honra ao Messias remete ao sangue derramado por Cristo, seiva vermelha de coerência e entrega daquele que, “amando-nos até o fim”, se contorce, humilhado na alma e lacerado no corpo, imóvel sobre a superfície áspera e hostil do madeiro.

Neste Domingo, a agonia e o sufocamento das vítimas do ataque químico ocorrido na Síria (*) somam-se aos gritos espremidos que Jesus, ferido pelos cravos, lança aos ouvidos indiferentes de seus algozes. Crueldade e indiferença: eis o binômio “explosivo” que lança a vida humana nas valas do ódio e da morte.

Neste Domingo, os gritos de “crucifica-o” são atualizados pela plateia que aplaude os arroubos nazistas do deputado que zomba e desfaz-se de indígenas e quilombolas. Espetáculo tétrico realizado na casa daqueles que sofreram a dor de uma dura, injusta e sangrenta perseguição.

Neste Domingo, os “hosanas e vivas”, proclamados no início da celebração, emolduram o espírito da Festa Pascal. São uma espécie de prenúncio do Aleluia festivo proclamado no Domingo da Ressurreição.

Neste Domingo dos extremos somos convidados a ser teimosos na esperança, a não desanimarmos diante de muitos sinais de morte que, infelizmente, nos têm acompanhado. É tempo de renovarmos a certeza de que a nossa força deve estar em Cristo. É caminhando com ele que teremos a coragem necessária para vencer os desafios da cruz que temos enfrentado, individual e coletivamente. É com ele – nós cremos – que desejamos ressuscitar para o compromisso da construção de um mundo novo. Avante, com o verde de nosso entusiasmo e o vermelho do sangue que estamos dispostos a consumir em favor do Reino!

(*) Imagem da AP: O sofrimento do pai diante da morte do filho, vítima da sangrenta  guerra na Síria. Já são 86 pessoas mortas e 550 feridas na  província de Idlib pelo gás sarin, que é asfixiante e foi originalmente desenvolvido como um pesticida na Alemanha em 1938. O sarín fez parte de uma classe de armas químicas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br

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