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Saborear com Júbilo e alegria a Festa das Festas



Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM

Caríssimos irmãos e irmãs,
Que o Senhor nos dê a Paz e todo o Bem!

As Fontes Franciscanas exaltam a sensibilidade e a ternura com que São Francisco de Assis se prepara para celebrar a Natividade do Senhor. E entre tantas razões que justificam esses preparativos, três me parecem de fundamental importância porque vão ao encontro do seu desejo principal e plano supremo de observar o Santo Evangelho: “Imitar com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo”; “Lembrar a humildade de sua encarnação” (cf. 1Cel 84); “Celebrar com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos” (2Cel 199).

O Mistério do Natal começa com a dedicação que se deve dar ao tempo de preparação para acolher Aquele que está por vir: é o Advento do Senhor! Por isso esse tempo de expectativa e de espera da “festa das festas” exige muita atenção, esforço, dedicação e fervor. Ainda hoje me recordo, quando criança, a tamanha ansiedade com que aguardávamos em família a chegada do Menino Jesus (não do Papai Noel). Era muito natural contar os dias que faltavam para o Natal. E assim, a cada dia que passava e noite que chegava, até bem mais comportados do que qualquer outra época do ano, a ‘fome da festa’ crescia como se quiséssemos sentir em nós a célebre expressão de Cícero, mesmo sem dele nunca ter ouvido falar: “O melhor tempero da comida é a fome”.

Sentir fome, aguardar com ansiedade, preparar-se para acolher, endireitar o que não é reto, justo e virtuoso nos caminhos da paz e da fraternidade, são exigências penitenciais desse Tempo do Advento. As grandes figuras bíblicas, de modo especial o profeta Isaías, São João Batista, São José e a Virgem Maria, ajudam-nos a fazer do nosso tempo do Advento um itinerário espiritual que nos fala de acolhida, alegria, consolação, conversão, esperança, humildade, justiça, libertação, oração, pobreza, respeito e vigilância.

São estes os ingredientes necessários que realmente nos fazem ‘sentir fome’ para o grande dia da “festa das festas” do Menino Jesus, e participar da grandeza e da fartura do banquete que o Senhor Deus nos preparou na gruta de Belém. Felizes os pobres pastores, sedentos e famintos, que naquela noite da “festa das festas” saborearam do banquete da humildade e da pobreza oferecido misericordiosamente por Deus a todos os famintos da terra. Porque a outra festa, a do ‘papai noel’ do consumismo e das exigências dos enfastiados e insensíveis porque nunca experimentaram a fome, se desenrola no palácio de Herodes por personagens que preferem o tempero das essências sofisticadas e que, infelizmente, levou Herodes e comparsas a perder o sabor daquele que nasceu para nós como Pão da vida e sem fermento e a nós se apresentou como Sal da terra e Luz do mundo.

São Francisco de Assis, ao rezar o Evangelho da Encarnação do Filho de Deus, quer imitar a pobreza e a humildade do Filho de Deus na gruta de Belém e compreende que estas duas virtudes são pontos de partida para contemplar a riqueza do Amor divino. Festejar o Natal é celebrar com incrível alegria o Amor que dá sentido e sabor à vida! Por isso, “precisamos recordar com todo respeito e admiração, o que fez no dia do Natal, no povoado de Greccio” e o que lá sucedeu quando “aproximou-se o dia da alegria e chegou o tempo da exultação”, quando homens e mulheres do lugar foram chamados, quando a noite foi iluminada com tochas e “Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recordando a humildade” (cf. 1Cel 84-85).

A pobreza e a humildade, tão próximas à visão que teve do “menino exânime no presépio” (1Cel 86), na verdade brilham para São Francisco como “glória de Deus aos homens por ele amados” (Lc 2,14), capaz de saciar plenamente a todos os que se prepararam para ter fome na noite da “festa das festas”. Afinal, a própria Serva da festa maior, Mãe do Senhor recolhida silenciosamente na gruta de Belém, magnificamente preconizou isso no seu Cântico: “Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1,52-53).

Que o tempero da fome, provocado em nós neste tempo do Advento, nos leve a saborear com júbilo e alegria a “festa das festas” e contemplar a apropriada visão retratada por Tomás de Celano: “O menino Jesus tinha sido relegado ao esquecimento nos corações de muitos, mas neles ele ressuscitou, agindo a sua graça por meio de seu servo São Francisco, e ficou impresso na diligente memória deles” (1Cel 86).

Natal, a “festa das festas”, é “o dia que o Senhor fez” e nele Francisco reza: “Pois naquele dia Deus nosso Senhor concedeu a sua misericórdia, e de noite ressoou o seu louvor. Pois foi-nos dado um Menino amável e santíssimo, nascido por nós à beira do caminho e deitado numa manjedoura, porque não havia lugar na estalagem. Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Alegrem-se os céus, rejubile a terra, ressoe o mar com tudo o que contem…” (OfP 15, 3-10). Por isso Francisco queria que naquele dia “os pobres e esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros… e que se jogassem pelas ruas trigo e grãos, para que nesse dia solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias” (2Cel 199).
E desde agora desejo a você os melhores votos de um abençoado Natal e todas as bênçãos do Senhor para o Ano Novo.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

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